O ritmo de crescimento das instalações fotovoltaicas de micro e minigeração distribuída no Brasil sofreu uma desaceleração significativa desde que o tema da inversão de fluxo passou a impactar a aprovação de novos pareceres de acesso pelas distribuidoras.
Números compilados pelo Canal Solar, junto à base de dados da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), indicam que entre os meses de janeiro e maio de 2025, foram instalados 356 mil sistemas no país — uma queda de aproximadamente 3% em comparação ao mesmo período de 2024, que já havia registrado uma retração de quase 4% frente a 2023.
O movimento chama a atenção ao se comparar com os anos anteriores. Em 2020, o número de sistemas instalados no mesmo intervalo de tempo foi de 88 mil. No ano seguinte, o volume saltou para 148 mil, um crescimento de 68%. Já entre 2021 e 2022, o aumento foi ainda mais expressivo: 100%, com a instalação de 297 mil sistemas.
O cenário de expansão, contudo, mudou a partir de 2023, quando as distribuidoras começaram a utilizar o argumento da inversão de fluxo como justificativa técnica para negar ou limitar a liberação de novos pareceres de acesso. Naquele ano, o crescimento foi de apenas 27%, com um total de 380 mil instalações.
Desde então, o mercado passou a registrar quedas consecutivas no volume de novas conexões, conforme ilustra a imagem abaixo:
Reclamações
A inversão de fluxo tem sido apontada por associações e entidades do setor de energia solar como um dos principais entraves para o avanço da geração distribuída solar no Brasil.
Em entrevista ao Canal Solar, o presidente do INEL (Instituto Nacional de Energia Limpa), Heber Galarce, criticou a atuação das distribuidoras, alegando que as mesmas têm atuado com o objetivo de frear o avanço da energia limpa no país.
“As distribuidoras estão se aproveitando de um pseudo argumento técnico (a inversão de fluxo) para criar barreiras artificiais e bloquear a entrada de novos projetos. Isso não é gestão técnica, é proteção de mercado”, acusou ele.
Galarce disse ainda que a justificativa da inversão de fluxo vem sendo aplicada de forma generalizada, sem transparência, sem estudos robustos e, em muitos casos, sem sequer oferecer alternativas viáveis aos consumidores.
“A inversão de fluxo virou desculpa para impedir que brasileiros invistam em geração própria de energia. E o mais grave: isso acontece em um momento em que o país deveria estar acelerando a transição energética”, disparou o presidente do INEL.
Galarce criticou ainda uma suposta omissão de agentes reguladores e cobrou medidas urgentes. Segundo ele, enquanto o Brasil discursa sobre energia limpa em fóruns internacionais, “aqui dentro estamos aceitando que distribuidoras vetem projetos renováveis porque se sentem ameaçadas”, salientou.
Para o INEL, é preciso repensar o papel das distribuidoras e exigir planejamento, transparência e responsabilidade. A entidade defende que o fenômeno da inversão de fluxo seja tratado como uma etapa natural da evolução do sistema elétrico, e não como entrave.
“A geração distribuída não é um problema a ser contido. É uma solução concreta para modernizar a matriz elétrica, reduzir perdas, democratizar o acesso à energia e atrair investimentos. Travar esse avanço por conveniência comercial é um desserviço ao país”, finaliza Galarce.
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